Arquivos de Tag: experimento

O golem, capítulo 1

O Roger preparou um resumo bem-humorado do capítulo 1, “Conhecimento comestível: a transferência química da memória”.

“Ser planária algum tempo atrás”, dizia meu avô, “que era complicado”. Um maluco aí pegou um monte delas, colocou num trem, deu banho, raspou o cabelo, jogou num campo de concentração. Era treino de percurso em labirinto todo dia, era ficar no claro e depois no escuro, tinha choque a rebento, dedo no olho, chute no saco, e o canibalismo rolava solto, muleke. A ordem era tocar o terror nas planárias, “planária não era gente”, e se fosse hoje, tinha “worm lives matter” e o escambau pra todo lado. Vê se rato de laboratório era tratado assim. Esses aí tinham luxo e requinte, comiam bem, labirinto aquecido e férias três vezes por ano. Planária, não, era pior que gado.

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Seminários de Science Studies: O golem

Este é o livro que será objeto dos nossos seminários este ano: O golem – o que você deveria saber sobre ciência, de Harry Collins e Trevor Pinch. A tradução brasileira é de Laura Cardellini Barbosa de Oliveira, e ela foi publicada primeiro pela Editora Unesp em 2003, e depois pela Editora Fabrefactum de Belo Horizonte em 2010. O original é de 1993, e a segunda edição, da qual se fez essa tradução, de 1998.

Seminários “A ciência tal qual se faz” – uma experiência é ou não crucial?

Neste seminário discutimos o texto “Uma experiência é ou não crucial? E porquê?”, de Marcello Pera (1943-), filósofo, historiador da ciência e ex-presidente do senado italiano (2001-2006), onde atuou de 1996 a 2013. Há vários vídeos dele no nosso canal do youtube, dentre eles o seguinte:

Em seu texto, Pera (1999, p. 329-341) questiona a noção de “experiência crucial”, tão cara a Popper e Lakatos, por meio da controvérsia Galvani-Volta no final do século XVIII em torno do que Pera chamou de “rã ambígua”. Como veremos, não é a rã que é ambígua, e sim as interpretações de Galvani e Volta sobre a eletricidade.

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Seminários “A ciência tal qual se faz” – culturas etéreas e culturas materiais

O seminário de hoje é sobre o texto “Culturas etéreas e culturas materiais”, do físico e historiador da ciência Peter Galison, que é professor na Universidade de Harvard. Já temos no nosso canal do youtube vários vídeos dele, como o seguinte:

Este artigo é uma reflexão sobre o seu livro Image and logic, de 1997, sobretudo sobre os seguintes pontos: 1) a identidade do cientista; 2) influências “externas”; 3) reorganização do local da ciência; 4) biografias; 5) a noção de objetividade; 6) como se constrói uma narrativa em história da ciência; 7) para quem se constrói a história da ciência; 8) para que se constrói esta história da ciência; 9) instrumentos; e 10) zonas de troca.

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Representar e intervir VII

hacking_ian-20000120Na segunda parte do livro, Hacking sai da representação e passa à intervenção, ou seja, em vez dos problemas relacionados às teorias científicas com os quais tem lidado a filosofia da ciência tradicional, ele passa a enfatizar os problemas da prática científica. Para dar conta disso, escreve 8 capítulos: 1) experimento; 2) observação; 3) microscópios; 4) especulação, cálculo, modelos e aproximações; 5) criação de fenômenos; 6) medição; 7) tópicos baconianos; e 8) experimentação e realismo científico. Continuar Lendo →

Representar e intervir V

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Como vimos, Hacking apresentou a discussão dos antirrealistas (positivistas, pragmatistas e incomensurabilistas), mostrou o relato de Putnam para dar conta da incomensurabilidade de significado, mas acabou revelando a sua deriva do realismo para o antirrealismo. Nesse movimento, Putnam aproxima-se de Kuhn, e Hacking os denomina de nominalistas transcendentais, sendo o primeiro conservador, e o segundo, revolucionário. Para finalizar a primeira parte do livro, Hacking ainda aponta para outro caminho da filosofia da ciência “da teoria”, que é o que ele aborda no capítulo “Um substituto para a verdade” (p. 191-210).

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Representar e intervir II

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A primeira parte do livro começa discutindo o realismo científico (p. 81-93), mapeando os realismos e antirrealismos de teorias e de entidades. Diante dessa empreitada, é feita uma reclassificação entre realistas e antirrealistas de toda a tradição da filosofia da ciência. É possível ser realista de teorias sem ser realista de entidades. Russel, por exemplo, é enquadrado como realista de teorias e antirrealista de entidades, já que não problematizava a possibilidade de alcançar a verdade por meio das teorias, mas tratava as entidades inobserváveis como construções lógicas. Hacking, por sua vez, se declara um realista científico de entidades e diz que, para ele, só no nível da experimentação se pode ter certeza da existência de entidades teóricas não observáveis. É o chamado argumento experimental: “se você pode bombardeá-los [elétrons e pósitrons], então eles são reais” (p. 84).

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Representar e intervir I

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Desde o início do ano estamos discutindo o livro do Ian Hacking, Representar e intervir, publicado em 2012 pela Editora da UERJ. Apesar de já ser um texto balzaquiano (publicado originalmente em 1983), ele ainda é deveras atual e conta com uma introdução do autor escrita especialmente para a edição brasileira. Ademais, há uma reveladora apresentação, escrita pelo meu amigo André Mendonça (IMS-UERJ), em que ele nos apresenta o Hacking e sua obra como uma ponte entre a tradição e a pós-modernidade. Vale a pena conferir!

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